Os provérbios são tomados como um género nobre, uma vez que se situam no paradigma do carisma e de autoridade. Assumem-se, na verdade, como veículo de saberes e ordens instituídas que devem ser respeitados. Esta assunção tem a ver com o estatuto a eles adstrito decorrente do processo de socialização ou de educação, das funções que comummente realizam. Um aspecto fundamental a reter, do conjunto das percepções sobre o provérbio, é a aceitação de que reflectem verdades aceites pela comunidade onde são proferidos e que os reconhece como instituição. Tal pressuposto atribui de forma imanente um papel didáctico e orientador para a ordem e controlo sociais. Estas funções são substanciadas através do papel descritivo, valorativo e persuasivo e outros, condição que se podem denominar de autoridade.
O presente artigo pretende discutir a representação da mulher através dos provérbios Tsonga e Macua-Lómwè, especialmente por serem dois povos de Moçambique cujas estruturas sociais assentam em filosofias diferentes: o primeiro, o Tsonga, de orientação patrilinear e o segundo, o Macua-Lómwè, de orientação matrilinear. Deste modo importa observar os lugares que a mulher, na representação proverbial, ocupa em cada uma das culturas, de acordo com o olhar que se lhe é dirigido: central ou periférico?