O livro Ensaio sobre a Lucidez, de José Saramago, é mais uma obra de ficção fantasiosa e reflexiva em que o culto paremiológico valoriza criticamente a realidade humana e, neste caso, a democracia como regime político organizativo de um estado.
Saramago apresenta-nos, na sequência do Ensaio sobre a Cegueira, uma nova alegoria assente no conceito duplo cegueira-lucidez que enforma o ser humano comprometido com os constrangimentos dos sistemas políticos e proporcionada pela legalidade do voto em branco. O uso deste em excesso em eleições democráticas pode pôr em causa um sistema político.
O autor enuncia diversas questões sérias com encenações hipotéticas que ilustra com expressões idiomáticas e provérbios enfatizadores da ação dos políticos, ao pretenderem “entorpecer as consciências e aniquilar a razão”, porque “Quem fez a panela fez o testo para ela”, “Quem faz um cesto fará um cento”e “Uma mão lava a outra e as duas lavam o rosto”.
Nesta obra parecem assumir a centralidade das ações da cegueira dos políticos iluminados os provérbios “a necessidade faz lei” e “os fins justificam os meios”, enquanto a lucidez sofre com as ações de consciência do povo que Saramago fantasia com estruturas frásicas características de variantes proverbiais, como “Quem se mete em atalhos, não se livra de trabalhos”;“O homem põe, deus é que dispõe”; “Vão pagar os justos pelos pecadores”; “Com os pensamentos todo o cuidado é pouco”.